quinta-feira, 24 de março de 2011

Financiamento colaborativo

Publicado em 22 de março de 2011

Nova forma de arrecadar fundos usa a internet como ferramenta de doações para viabilizar projetos que, muitas vezes, nada têm a ver com caridade e oferece, em troca, recompensas exclusivas

“Funciona assim: você envia seu projeto, diz quanto precisa e até quando quer arrecadar este dinheiro. Aí você divulga o projeto e as pessoas podem optar por apoiar com qualquer valor a partir de R$ 10 e receber recompensas por isto! Se até o prazo escolhido você tiver atingido o valor que precisa, você recebe o dinheiro. Senão, todo mundo recebe o dinheiro de volta. Simples assim.” Esta é a descrição do funcionamento do site Catarse.me que serve de ponte entre quem quer realizar um projeto, mas precisa de dinheiro, e quem quer colaborar com ele.

Este tipo de arrecadação é conhecida como crowd funfing ou financiamento colaborativo. Muito comum em causas filantrópicas, como a arrecadação de dinheiro ajudar pessoas vítimas de desastres naturais, o crowd funding chegou à internet como uma forma de financiar projetos particulares que, muitas vezes, não têm nada a ver com caridade, como a criação de programas de computador livres, e podem até servir de capital inicial para começar pequenos negócios.

O site Cartase não faz a intermediação para a criação de empresas, mas dá apoio a projetos que considera criativos e que tenham recompensas interessantes. Os seus criadores explicam que, se algum empresário quiser reformar sua loja ou lançar um produto, o Catarse é o lugar certo para conseguir o dinheiro, desde que as recompensas oferecidas em contrapartida sejam criativas. Lá também é ideal para quem procura financiamento para, por exemplo, desenhar uma nova coleção de roupas, já para lançar uma nova marca, é melhor procurar outro lugar.

Qualquer um pode se inscrever no Catarse, mas o projeto, antes de ir ao ar, passa pelo crivo do organizadores. “Nossa intenção é divulgar somente projetos bacanas e que estejam prontos para ir ao público pedir apoio financeiro”, é explicado no site. O foco deles são os projetos artísticos como em artes plásticas, circo, dança, audiovisual, fotografia, música, teatro, história em quadrinho, mas eles também aceitam aqueles que se enquadram em outras áreas como alimentação, design, moda, tecnologia, jogos e vários outros, desde que, aí eles batem na mesma tecla, sejam criativos.

Quem quiser ter seu projeto divulgado pelo site deve se inscrever lá, descrever sua ideia, falar quanto precisa financiar sua empreitada e dizer qual será o período de arrecadação que não pode passar de 90 dias. Qualquer pessoa pode doar o quanto quiser a partir de R$ 10,00 e recebe, em troca, uma recompensa que pode variar de acordo com o valor da doação. Se o projeto arrecadar a quantia pretendida ou mais dentro do prazo estipulado, o seu criador recebe o financiamento, descontado os 5% do Catarse e mais a taxa que varia de 6% a 7% do MoIP (gerenciador dos pagamentos). Se o valor não for atingido, todas as doações são devolvidas aos colaboradores e o usuário não paga nada por isso.

Inspirado no bem-sucedido site americano Kickstarter, o Catarse foi criado por dois estudantes de administração de empresas Diego Reeberg de 23 anos e Luís Ribeiro de 20. Em um mês de funcionamento, o site arrecadou R$ 14,5 mil para nove projetos. "O sistema é interessante para empreendedores, porque pode testar a aceitação da sua ideia no mercado e ainda conquistar fãs do produto, antes de ele ser lançado no mercado", disse Luís em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. Até o fim do ano, o site pretende apoiar 600 projetos.

Networking

Networking é uma palavra em inglês que se refere aos contatos feitos e pessoas que conhecemos que podem nos ajudar profissionalmente. Isto quer dizer que, quanto maior for a rede de contatos (networking) de uma pessoa, maior será a possibilidade desta pessoa conseguir atingir seus objetivos profissionais. Para se conseguir um bom crowdfunding, o networking é fundamental. Luís Ribeiro é enfático ao dizer no blog do Grupo Brasileiro de Crowdfunding (www. crowdfundingbr.com.br) que, antes de começar uma campanha de arrecadação no site, é preciso que o criador planeje como mobilizar sua rede, chamando a atenção de amigos, familiares e ainda como atrair pessoas não conhecidas para apoiarem a causa.

Saber usar o Facebook e o Twitter é super-importante. Procurar a mídia convencional também gera uma divulgação extra que pode garantir mais doações. Ele explica que, com o aumento do número de projetos no Catarse, mais do que expor, é preciso chamar a atenção para o seu projeto e garantir que mais pessoas acessem e contribuam para ele. “Se você quer conseguir a grana necessária para realizar o projeto da sua vida, não seja apenas um coadjuvante no processo, tome a frente, lidere e faça o seu projeto acontecer”, completa Luís.

Rabiskaria

O designer goiano Carlos Filho conseguiu arrecadar pelo Catarse R$ 23.035 para seu projeto em 45 dias, sendo que o objetivo inicial era de R$ 22.500. Segundo Carlos, este foi o primeiro projeto de crowdfunding que não é voltado à filantropia a atingir o montante pretendido no Brasil. O designer pesquisou por algum tempo sobre esta forma de financiamento e até tentou se inscrever no Kickstarter, mas, devido a problemas burocráticos, não conseguiu. Pela internet, ele fez contato com vários brasileiros que se interessavam pelo crowdfunding e, no fim do ano passado, um dos criadores do Catarse, Diego, entrou em contato com Carlos e pediu que lhe enviasse o seu projeto.

O projeto de Carlos passou pela curadoria do Catarse e ficou no ar por 45 dias. Ele conta que escolheu um tempo menor de exposição porque, segundo sua pesquisa, é na reta final que os projetos costumam arrecadar mais. Foram nos últimos quatro dias que o projeto de Carlos arrecadou 85% do valor total. A idéia que Carlos teve foi a de criar o Rabiskaria, uma empresa que serve de base para artistas, designers e amantes da arte que querem customizar produtos e não têm como produzi-los e distribui-los. Os suportes são os mais variados e inusitados e vão desde copos a sandálias Crocs e sofás. O que a empresa produz será vendido na loja on line e nos estandes montados em feiras e eventos culturais e o artista recebe royalties sobre a venda.

O dinheiro arrecadado será usado para produzir os primeiros produtos customizados por artistas convidados e para o lançamento do site. Como recompensa pela doação, os colaboradores terão seus nomes divulgados no site e diversos brindes que vão de adesivos a copos personalizados, copos pintados a mão, camisetas customizadas e uma ligação do Carlos Filho para agradecer. Para os doadores mais generosos, pinturas em tela exclusivas levadas por Mateus Dutra, co-criador do Rabiskaria.

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