domingo, 10 de outubro de 2010

Trilogia do Vinil Vol. 3


Vinil na era digital

 

Publicado em 21 de Setembro de 2010

 

DMRevista encerra hoje a série de três reportagens sobre os bolachões. Dessa vez, a análise é sobre o ressurgimento desta mídia, que segue a todo vapor com a reabertura da Polysom, única fábrica dos “discões” da América Latina


Moda vai, moda vem, desde seu surgimento em 1948 nos Estados Unidos, o vinil teve seus altos e baixos, mas nunca deixou de rodar nas vitrolas domésticas dos audiófilos ou nas pick ups dos DJs mais descolados. Para Daniel Vaughan, escritor do blog “Viva o vinil” da MTV brasuca, o bolachão, assim como as baratas, sobreviveria até a uma guerra nuclear. Segundo o repórter, o consumo de CDs caiu 17,5% enquanto que, no Brasil, foram consumidos mais de 1 milhão de vinis no ano passado. No início do ano, a única fábrica de discos de vinil da América Latina, a Polysom, voltou a funcionar para atender a demanda de artistas brasileiros e estrangeiros que ainda preferem lançar trabalhos neste formato.

Atualmente, não só quem grava escolhe o vinil, mas quem compra também mostra preferência pela bolacha. O estranho é que, muitas vezes, a pessoa que leva um vinil para casa sequer tem um toca-discos. Segundo pesquisa feita pelo instituto Neilsen Soundscan, 47% dos americanos que comprou vinil em 2009 não tem como ouvir os discos. De olho neste público que compra o vinil só para colecionar, a Sony Music lançou a coleção “Meu primeiro disco” que traz, com o LP remasterizado, um CD com as mesmas faixas acrescidas de outras faixas bônus. A coleção relança 30 artistas brasileiros do catálogo da gravadora e do acervo da RCA e da CBS como preço médio de R$ 100,00 cada.

Flávio Pinheiro, coordenador de marketing da Sony Music Brasil, diz que a ideia surgiu com a vontade de relançar os primeiros discos de importantes artistas que estavam fora de circulação. A gravadora acredita que a procura será grande tanto por parte de colecionadores quanto pela nova geração que não viveu a febre do vinil. Por isso, “a série ‘Meu Primeiro Disco’ traz um CD em formato de mini-vinil para aqueles que não têm toca-discos”, explica Pinheiro.

Vinil made in Brazil

A fábrica de discos de vinil Polysom nasceu na contra-mão da história. Ela foi fundada no município de Belford Roxo, no estado do Rio de Janeiro, no auge das vendas de CDs, em 1999. O responsável por esta odisséia foi o industriário Nilton José Rocha que já havia trabalhado na Polygram, na Continental e na Companhia Industrial de Dsicos (CID). A empresa de Rocha se aproveitou da falência de outras fábricas de vinil para adquirir seu maquinário. O industriário disse que “parece coisa de maluco se meter a produzir vinil quando todos os outros estavam abandonando o barco”, mas, para ele, a empreitada, “nasceu por causa do coração, não do tino comercial”.

A Polysom sobreviveu aos trancos e barrancos produzindo discos de vinil até 2007, quando finalmente foi obrigada a fechar. Antes de jogar a toalha, a fábrica tentou sobreviver produzindo também copos de plástico e cornetas, mas não conseguiu. Nos bons tempos, a Polysom chegou a fabricar até 150 mil LPs por mês, boa parte para a igreja evangélica, um de seus principais clientes no passado.

Em 2009, a gravadora Deckdisc comprou a Polysom. Desde então, foi administrada uma reforma geral no lugar. Máquinas antigas foram recuperadas, novo maquinário adquirido, pesquisas feitas na Europa e novos profissionais contratados. Tudo para oferecer uma qualidade equivalente à dos fabricantes gringos. Rafael Ramos, diretor artístico da Deckdisc enfatiza que a Polysom não é uma fábrica da gravadora e que as duas são empresas distintas. Dessa forma, a Polysom está pronta para atender qualquer pedido de artistas, gravadoras ou selos que queiram prensar seus vinis.

João Augusto, atual proprietário da Polysom, afirma que a capacidade inicial de produção é de 40 mil discos por mês, mas a fábrica está pronta para atender uma demanda mais alta. A Polysom vende o produto semi-acabado. Cabe às gravadoras colocar a capa embalar e vender. “No que diz respeito ao custo de fabricação do vinil aqui, estou tentando fazer com que o preço seja duas vezes e meia menor do que lá fora. Vou conseguir um produto mais barato. O problema do Brasil é que as taxas são muito altas”, reclama Augusto.

A primeira safra de discos saída da Polysom foram de artistas da gravadora Deckdisc. Pitty relançou seu álbum “Chiaroscuro” no formato LP assim como Fernanda Takai fez com o álbum “Onde brilhem os olhos seus”. Cachorro Grande e Nação Zumbi também prensaram seus álbuns “Cinema” e “Fome de tudo” na Polysom. Além de outros títulos em vinil como o compacto split das bandas Mukeka Di Rato e Dead Fish, a gravadora Deckdisc lançou este ano o selo “Clássicos em vinil”, cujos primeiro relançamento são os LPs “África Brasil” (1976) de Jorge Ben e “Nós vamos invadir sua praia” (1985) do Ultraje a Rigor. A Polysom anunciou em seu perfil no Twitter que, em breve, anunciará mais dois importantes títulos para a série Clássicos em Vinil. A única pista dada pela fábrica é que os lançamentos serão licenciados pela Sony.

Vitrola

Mais do que um belo item para colocar na prateleira, os LPs e compactos oferecem uma audição de primeira qualidade, de acordo com os amantes do vinil. Encontrar discos novos nos sites especializados e discos antigos em sebos é até fácil. O difícil é achar um toca-discos novo ou usado. A dica do técnico em eletrônica Aroldo Maks Vieira é comprar o aparelho de segunda mão em pregos. Mas fique atento: antes de levar o toca-discos para casa, teste o aparelho na loja. Se ele tiver algum defeito, Maks afirma que dá assistência em sua oficina, a Video In, localizada na rua 68, no Centro de Goiânia, que também compra e vende aparelhos novos e usados. O custo de manutenção fica a partir de R$ 40,00, preço cobrado  para uma simples limpeza. Defeitos mais graves nas engrenagens ou no cristal de leitura que fica acoplado na agulha demandam peças de reposição importadas e, portanto, acaba encarecendo a assistência. Na internet é possível encontrar várias marcas de pick ups e toca-discos. O destaque dica com a estrangeira Ion Audio que vende vitrolinhas modernas com entrada USB.

Esta foi a última parte da Trilogia do Vinil feita pelo DMRevista. No Volume Um da série foi retratada uma breve descrição da trajetória do vinil e analisado o recente vinyl-boom que atualmente impulsionou as vendas das bolachas. Loucos por vinil e especialistas falaram, no Volume Dois, por que preferem o vinil e quais as vantagens e desvantagens em relação aos formatos digitais. Na última parte da Trilogia, o Volume Três, o destaque foi para a reabertura da Polysom e os lançamentos nacionais de LPs e compactos.

 

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