Tropa de Elite 2 estreia hoje em 600 salas de cinema de todo o Brasil. Recheado de ação e com uma estética realista, o filme tenta apontar os culpados pela violência urbana
Capitão Nascimento volta às telas 15 anos mais velho, promovido a coronel e ocupando o cargo de subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro. Desta vez, o personagem do ator Wagner Moura não pede para sair e continua sendo um osso duro de roer. Após uma operação fracassada no presídio carioca de Bangu 1, ele, nas palavras do próprio Nascimento, “cai pra cima” num cargo público de confiança. Na nova trama, o “sistema” mostra uma outra face e opera pelas mãos de políticos corruptos que agem de acordo com interesses eleitoreiros. A vida privada do protagonista, mais uma vez, tem papel importante nesta continuação. O filho adolescente de Nascimento confronta o pai literalmente no tatame, onde os dois praticam jiu-jitsu, e também questiona a violência extrema com que o coronel repreende o crime.
José Padilha, no Tropa de Elite 2, se propõe a pressionar a audiência por meio do personagem do ator Irandhir Santos, o ativista pelos direitos humanos Fraga. E ele também confronta, mas com mais veemência, o coronel Nascimento, com o uso da violência policial para coibir a violência urbana. Nascimento, desde o primeiro filme, se diz incorruptível, porém ele se coloca acima da lei ao cometer crimes como tortura e assassinato a fim de combater o tráfico de drogas. Apesar disso, No Tropa de Elite, a identificação com o público é bastante forte. Pedro Novaes, diretor de cinema e publicidade em Goiânia, afirma que, apesar de “algumas (pessoas) sentirem um dilema moral pelos métodos dele, a maioria concorda, infelizmente, de forma integral com esses métodos”. Novaes diz que tirar o espectador de sua zona de conforto é a principal matéria-prima dos grandes filmes. Para ele, o primeiro Tropa tenta fazer isso, mas não consegue. Talvez sua sequência seja mais feliz nesta tentativa.
O diretor José Padilha afirma que fez três filmes sobre a violência urbana no Rio de Janeiro. O primeiro, de acordo com o cineasta, foi Ônibus 174, no qual mostra como o Estado administra de forma incompetente todas suas organizações, gerindo mal a polícia, que é violenta, e sendo conivente com o sistema prisional que pratica tortura. O segundo filme de Padilha a abordar o mesmo tema foi Tropa de Elite, em 2007. Nele, “a mesma coisa se repete no âmbito da polícia”, onde o Estado destrata a instituição policial e seus policiais, “pagando-os pouco e treinando-os mal”. Padilha afirma que precisava explicar, no Tropa de Elite 2 de 2010, “por que o Estado funciona assim e insinuar que não é só na área da segurança pública que ele falha de maneira decisiva”.
Pedro Novaes declara que, no filme de 2007, Padilha tenta, ainda que de forma problemática, dividir entre o Estado inapto e os cidadãos, sobretudo dos consumidores de droga, a responsabilidade pela violência. “Mal ou bem, (Tropa de Elite) nos tira da zona de conforto”, explica Novaes. O primeiro filme da franquia, portanto, não é condescendente com o público. “Se o segundo se limitar a colocar o problema no Estado, terá de ser criticado por isso”, pondera o goiano.
Na conta do Papa
Na conta do Papa
A pré-estreia do Tropa de Elite 2 aconteceu na última terça-feira, em Paulina, interior de São Paulo. Um forte esquema de segurança foi armado para driblar qualquer tentativa de pirataria. As medidas foram sugeridas pela própria equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, o famoso Bope. Foram usadas portas com detectores de metais, revista na entrada e apreensão de celulares e câmeras. Ao longo da sessão, seguranças circulavam entre as fileiras da plateia, com 1.300 pessoas, para checar se alguém havia conseguido passar pelo monitoramento e estava registrando imagens. Tal preocupação só pode demonstrar o quanto o desrespeito às leis não é exclusividade dos bandidos do morro, policiais ou políticos. Vemos, portanto, que a corrupção permeia toda a sociedade brasileira.
Não foram bandidos armados de uma favela do Rio que roubaram uma versão inacabada do primeiro Tropa e colocaram nas mãos dos camelôs de todo o País. Três funcionários da produtora de legendas Drei Marc trocaram cópias não autorizadas do filme de Padilha por dinheiro, ignorando a legislação e lucrando com um crime. Os receptadores das cópias ilegais também são, em sua esmagadora maioria, cidadãos comuns que certamente ficariam horrorizados se tivessem que matar alguém, mas não veem mal nenhum em adquirir uma versão pirata de um filme.
Há quem diga que até a produção do Tropa de Elite lucrou com a pirataria, que teria se tornado uma excelente forma de divulgação informal. Em uma pesquisa encomendada ao Ibope e à Datafolha pelos produtores do filme, constatou-se que 30% das 11 milhões de pessoas que viram a cópia pirata veriam o filme no cinema. Ou seja, a pirataria levou 300 mil espectadores ao cinema para ver o Capitão Nascimento “sentar o dedo nessa p...”. Pedro Novaes não acredita que o primeiro Tropa, que foi bem divulgado, teria menos impacto se não tivesse havido a pirataria. Para ele, houve, sim, prejuízo para os produtores. Novaes aponta que a venda de cópias ilegais revela os problemas de distribuição do cinema no Brasil. Ele declara que, no Brasil, “os ingressos são caros, a cadeia de exibição é controlada por poucos grupos e as salas se concentram nas grandes cidades e shopping centers”. Assim, a maior parte da população que tem dificuldade de acesso aos filmes exibidos nas telonas acaba recorrendo à ilegalidade para ver um filme.
Novaes explica que a franquia do Tropa de Elite é um blockbuster e que não tem dificuldade nenhuma na sua distribuição. Isso é tão verdade que, enquanto o primeiro longa foi distribuído pela Universal Pictures do Brasil, o Tropa 2 não parece dar muita importância para numerologia e optou pela distribuição independente. Uma decisão que parece ser acertada, devido à grande popularidade do primeiro filme. Então vá ao cinema, pague ingressos caros e veja se Tropa de Elite 2 também vai pegar você antes que uma cópia pirata o faça.
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