domingo, 10 de outubro de 2010

Trilogia do Vinil Vol. 1


A volta dos que não foram 

 

Publicado em 19 de Setembro de 2010

 

DMRevista traz, a partir de hoje, uma série de três reportagens com análise da trajetória dos bolachões (apelido carinhoso) na indústria fonográfica e o recente vinyl-boom no mercado musical mundial



Enquanto o CD agoniza nas prateleiras das lojas e o download de músicas cresce ainda mais na internet, o vinil renasce da tumba com uma força quase sobrenatural. Na verdade, o bolachão (apelido carinhoso) nem chegou a morrer. Durante a época de ouro do CD que anunciou o fim do vinil no início dos anos 90 e mesmo depois do monstro no armário da indústria fonográfica mundial Napster inventar a pirataria digital em 1999, os discos continuaram a ser fabricados em menor escala em diversas partes do mundo para saciar o desejo dos audiófilos. De lá para cá, a prensagem e a venda de LPs, EPs e Singles (formatos de vinil mais vendidos atualmente) vêm crescendo gradualmente.

De acordo com a Soundscan, empresa que faz levantamentos de vendas de música e vídeo, só nos EUA foram vendidas 2,5 milhões de unidades no ano passado. Isto é apenas um décimo das vendas totais do álbum “Thriller” de Michael Jackson, lançado em 1982, mas, mesmo assim, o número não deixa de impressionar. Enquanto isso, as vendas de CDs continua a cair em todo o mundo.

Segundo o cantor, compositor e colecionador de vinis, Ed Motta, os grandes responsáveis pela volta do vinil foram os DJs não só no Brasil, mas, principalmente, no exterior. Grande parte desses profissionais prefere a bolacha para animar as pistas de dança, deixando de lado os formatos digitais. Tanto é que Madonna, a rainha-mãe do pop, e a usurpadora do trono, Lady Gaga, lançam, de olho nos fãs, álbuns inteiros em vinil e versões remix visando os DJs. O destaque é para o álbum “The Fame Monster” na versão picture, que traz impressas no próprio disco uma foto de uma Lady loira no lado A e outra Gaga morena no lado B.

Ao mesmo tempo que o vinil é uma preferência no mundo pop, no hip hop o formato é lei. DJ Hum, rapper, produtor musical e fundador do grupo de rap Motirô, diz que “se não lançar hip hop em vinil, comercialmente não funciona. O bolachão traz credibilidade, demonstra que o DJ tem mais conhecimento cultural.” Para se ter uma ideia, “Senhorita”, o compacto (formato da bolacha em 7 polegadas) do grupo Motirô, vendeu mais de 1.500 cópias. O hollywoodiano DJ Cobra não é do hip hop, mas concorda com Hum: “Com o vinil, o DJ tem a oportunidade de demostrar suas habilidades e técnicas de mixagens com muito mais intensidade do que num CD.” Cobra ainda afirma que as pick ups (nome chique que os DJs dão às vitrolas) reproduzem o áudio com maior precisão que os toca-CDs e, por isso, contagiam muito mais a multidão.

Origens do groove

Os discos de vinil não foram os primeiros a reproduzir sons por meio de agulhas leitoras e objetos giratórios. Thomas Alva Edson (aquele da lâmpada) inventou o fonógrafo, um aparelho que possuía uma agulha e um cilindro destinados a registrar e reproduzir áudio em 1877. Este cilindro que girava em uma velocidade constante era envolto por um papel que a agulha arranhava durante a gravação. Na reprodução, a agulha apenas passava pelos sulcos, também chamados de grooves, produzindo diferentes vibrações que, amplificadas, reproduzia o áudio gravado.

No ano de 1887, o alemão Emil Berliner criou seu Gramophone, aparelho que começou a utilizar a tecnologia dos sulcos em disco de zinco revestido com cera. O disco de Berliner tinha qualidade similar à do cilindro de Edson. A principal vantagem comercial do disco era que este poderia ser mais facilmente produzido em massa e ocupava menos espaço nas coleções dos compradores. Dez anos mais tarde, Berliner fundou a canadense Gramophone Company, empresa que, durante a grande depressão americana, se fundiu com a americana Columbia Graphophone Company para formar a multinacional Electric and Musical Industries, conhecida hoje como a poderosa EMI.

Os formatos e velocidades dos discos variavam bastante no fim do século XIX e início do século XX devido aos diferentes métodos e técnicas de gravação. Cada fábrica fazia o que julgava melhor. Havia discos de 76, 79, 80 rotações por minuto (RPM) em tamanhos que iam de 15 a 30 cm. Finalmente, na metade da década de 10, a Victor Talking Machine Company, fabricante das Victrolas, fonógrafos que foram sucesso de vendas por muito tempo, estabeleceu um padrão de discos de 25 cm que rodavam a 78 RPM.

Mais tarde, a companhia de Victor foi incorporada à Radio Corporation of America (RCA). Esta sigla é atualmente uma marca que usada pela Sony Music Entertainment. Uma curiosidade: em 1927, a Victor estendeu seus braços para o Japão e fundou a Victor Company of Japan (JVC). Durante a Segunda Guerra, a subsidiária rompeu seus laços com a matriz, mas continua usando até hoje o nome para um selo musical e como marca de equipamentos eletrônicos.

Corra que o LP vem aí 33 1/3

O auge do 78 rotações se deu nas décadas de 40 e 50, quando o uso desses discos de goma-laca para audições particulares se tornou um costume no mundo inteiro. Em 1948, o disco de vinil surgiu no laboratório da Columbia Broadcasting System (CBS), nos Estados Unidos, para derrubar de vez os antigos bolachões. Ele foi revolucionário devido a inúmeras inovações tecnológicas. A utilização do plástico PVC, o resistente vinil, substituiu a pesada e frágil goma-laca. O desenvolvimento da gravação microssulcos ou microgrooves permitiu uma “resolução” de áudio quase três vezes maior que a dos discos de 78 rotações. Além disso, ao diminuir a velocidade para 33 e 1/3 RPM, aumentou-se os minutos que um disco comporta. O termo escolhido para designar este disco de maior duração foi long-playing, mas você pode chamá-lo de LP. Mais tarde a RCA desenvolveu um disco de 45 RPM para comercializar obras com um número menor de músicas.

O surgimento do vinil estéreo permitiu a gravação do áudio em dois diferentes canais, simulando o som ao vivo que é difuso, e impulsionou de vez as bandas de rock n' roll que surgiam na Inglaterra, na década de 1960. Quem ouvia vinil estéreo tinha a impressão de que os músicos tocavam na sala de estar. O disco se tornou uma mercadoria desejada por muitos e acessível a quase todos. A música saiu definitivamente das salas de concerto, das igrejas, dos teatros de  ópera e incorporou no toca-discos de cada um. Assim, qualquer pessoa poderia apreciar, em sua sala de estar, Carmem de Bizet ou Help dos Beatles usando apenas pijama se quisesse. Ou, se o ouvinte preferisse e a família permitisse, ouvir pelado mesmo.

Nos próximos dois volumes da Trilogia do Vinil do DMRevista, veja o que os amadores e especialistas falam sobre as bolachas, a reabertura da Polysom, a única fábrica de vinil da América Latina, cuja sede fica no Brasil, dicas, lançamentos e revenda de vinis e onde encontrar e reformar toca-discos.

Dicas
Bolachas para todos os gostos
LP (long-playing)
12 polegadas - 33 1/3 RPM
20 minutos de áudio por lado
Maxi-single
12 polegadas 45 RPM
12 minutos de áudio por lado
EP (extended play)
7 polegadas - 33 1/3 RPM
8 minutos de áudio por lado
Single ou compacto
7 polegadas - 45 RPM
4 minutos de áudio por lado

 

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