Publicada em 30de janeiro de 2011
Criado inicialmente apenas para marcar os dias e os meses do ano, o calendário também serve para decorar a casa, fazer propaganda, informar sobre os mais diversos assuntos e ainda angariar fundos para causas beneficentes
Quando se fala em calendário, talvez a primeira imagem que venha a mente seja a de uma foto de uma bela mulher em uma pose sensual pendurada na parede de alguma borracharia. Dispositivos para marcar os dias e os anos existem há milhares de anos, porém, usar imagens sensuais para ilustrá-lo é coisa do início do século passado, quando os calendários passaram a trazer desenhos de mulheres com silhuetas idealizadas pela imaginação masculina da época. Na verdade, esse tipo de ilustração em posteres, cartões e maços de cigarros datam do fim do século XIX. Esta tendência começou em Paris pela influência dos artistas Alphonso Mucha e Jules Cheret, mas a idéia de imprimir o mês na folhinha é mais recente mesmo.
Na década de 1940 e 1950, desenhos de garotas em posteres e cartões viveram seu auge. Nesta época, ser fotografada nua era atentado ao pudor, mas usar lápis e tinta para retratar mulheres sensuais não. O ato de pendurar essas ilustrações com calendários ou não na parede acabou por apelidar este estilo de desenho de “pin-up girl” ou, literalmente, em português, garota pendurada. Os soldados americanos levavam esses desenhos para a batalha e os chamavam de suas “armas secretas”. Nas décadas seguintes, principalmente na década de 1970, a indústria do sexo passou a desmanchar a aura misteriosa das pin-ups graças a filmes e revistas pornográficas. Da mesma forma, os calendários com fotos de mulheres nuas foram se tornando cada vez mais vulgares e as folhinhas passaram a ilustrar lugares predominantemente masculino como as borracharias e oficinas mecânicas.
Baptiste Giabiconi posa para calendário da Pirelli
O calendário da Pirelli, empresa italiana famosa por seus pneus, remonta meados da década de 1960. A publicação acompanhou o auge e a decadência das pin-ups, mas, na década de 1980, conseguiu elevar o calendário de mulher pelada ao status de obra de arte. Ao contratar fotógrafos famosos para fotografar supermodelos para seus calendários, a folhinha da Pirelli se tornou cult. O fato de não vender a publicação livremente e de imprimir poucos calendários também são estratégias de marketing que eleva não só o preço do calendário, mas também seu valor como objeto de colecionador.
Na edição da Pirelli deste ano, o fotógrafo e estilista Karl Lagerfield foi convidado para clicar belíssimas modelos e atrizes e o escultural modelo Baptist Giabiconi. No time feminino, nomes como o de Julianne Moore, Freja e Isabeli Fontana ilustram alguns meses do ano. Em 2011, o calendário da Pirelli atinge sua 38º edição e, sob o título de “Mythology” (mitologia), Lagerfield retrata sua paixão pelas lendas e mitos da cultura greco-romana. Apenas 12 meses por ano parecem ser pouco para a edição deste ano, pois o calendário traz nada menos que 36 imagens distribuídas em 24 temas.
Publicidade
Apesar da aura artística que envolve a produção do calendário da Pirelli, ele é, sobretudo, uma peça publicitária. Os calendários são brindes que produzem grandes resultados no que diz respeito a fidelização de seus clientes por permanecer o ano todo às vistas do consumidor, com o nome, a logomarca e o contato do cliente sempre à mão. Mas antes que os anti-capitalistas torçam o nariz para esta arma pró- mercado e que as feministas radicais o classifiquem como sexista, saiba que o calendário com fotos de belas mulheres tem sido largamente usado para disseminar boas idéias em prol de causas beneficentes.
Atriz Juliana Silveira na versão nacional do calendário da L'Oreal
Em setembro do passado, a Fundação L'Oreal, em parceria com a Unesco e com o apoio do Ministério da Saúde, lançou a edição nacional 2011 do Calendário da Campanha Cabeleireiros Contra Aids. A peça faz parte da campanha mundial da L'Oreal, cuja a idéia central é usar os profissionais de beleza como difusores de informações para o combate à Aids e ao HIV. A parte da multinacional é suprir o salão com material informativo e de divulgação e treinar os cabeleireiros. Já a estes, cabe conversar com suas clientes sobre a doença e informá-los corretamente. Desde 2006, mais de 120 mil pessoas foram treinadas pela L’Oreal.
A folhinha é mais contida que o calendário da Pirelli – traz apenas uma foto por mês. As imagens são assinadas por fotógrafos de moda e exibem mensagens de prevenção a Aids. Este ano, em sua terceira edição, 14 artistas vestiram a camiseta da campanha criada pelo estilista Carlos Tufyesson. Com o slogan “Quem cuida da beleza, cuida da saúde”, as atrizes como Camila Morgado, e Flávia Alessandra, as apresentadoras Fiorella Mattheis, Caroline Bittencourt e Penélope, as gêmeas do nado sincronizado, Bia e Branca Feres, o DJ Jesus Luz, o modelo Paulo Zulu e os namorados Thaila Ayala e Paulo Vilhena exibem seus belos corpos nas folhas do calendário. Cada peça sai a R$ 10,00 e toda a renda será destinada à Sociedade Viva Cazuza. Somente no primeiro mês já foi arrecadado R$ 2 mil para a instituição. A idéia brasileira foi tão boa que a L'Oreal resolveu fazer este ano a primeira a versão internacional do Calendário Contra a Aids.
A octogenária Betty White no calendário em prol dos animais
A atriz norte-americana Betty White também lançou um calendário beneficente em 2011. A artista usou algumas fotos de seu arquivo pessoal para ilustrar o calendário e posou com animais, cercada por belos homens e, em alguns meses, aparece sem blusa. Toda a renda vai para a Morris Animal Foundation de Denver Colorado, da qual Betty faz parte. O detalhe é que a atriz tem 88 anos. Se você quiser ajudar os animaizinhos ou simplesmente apreciar essas imagens inusitadas, pode adquirir o calendário no site da Amazon por $6,49 mais despezas de envio.
A empresa Eizo mostrou mais do que nudez em seu calendário
Outro calendário diferente foi produzido no ano passado pela Eizo, uma empresa multinacional de produtos e suprimentos médicos. O Eizo Pin-Up Calendar trouxe em suas folhas mulheres mais do que peladas. Ele exibiu 12 radiografia de corpo inteiro de mulheres que usavam apenas um sapato de salto em poses sensuais. A versão impressa foi feita apenas em 2010, mas a versão 2011 para download está disponível em diversos sites da internet.
Gyn Rock City
A designer e fotógrafa Rafaella Pessoa se juntou a sua amiga e colega designer e também fotógrafa Marília Assis a fim de criar um produto que divulgasse ses trabalhos. Como queriam algo diferente do que havia nomercado, elas viram o calendário como uma excelente plataforma de criação. Assim nasceu o calendário Rock Years no ano de 2010. “Como era um projeto inicialmente, sem pretensões lucrativas, decidimos incorporar a temática do rock'n roll por um gosto pessoal e pelas inúmeras possibilidades visuais que este estilo nos daria”, conta Rafaella. Para isso, elas optaram por mostra, além da beleza, a atitude roqueira das mulheres de Goiânia. “para que essa ideia ficasse clara nas imagens era preciso ressaltar as características do rock no estilo de cada uma, como piercings, tatuagens, juntamente com a maquiagem e o figurino”, completa a designer.
O calendário goiano Rock Years ainda não lançou seu vol. 2
O resultado foi um calendário em um a embalagem e dimensões que lembram as capas dos LPs recheado imagens muito bem produzidas que mostram garotas goianienses que são envolvidas no meio roqueiro e que esbanjam estilo e beleza. Para este ano, Rafaella ainda não sabe dará continuidade ao projeto, pois é algo que exige muita dedicação e pouco retorno financeiro. “É difícil encontrar uma equipe que dispõe a trabalhar de graça e com competência, como foi na primeira edição.” Se você quiser dar uma olhada no calendário do ano passado é só acessar o flickr de Rafaella: www.flickr.com/rafapessoa. Tomara que o projeto arranje patrocinadores, pois o calendário Rock Years não tem o mesmo peso internacional que o calendário da Pirelli, mas pode muito bem ser visto como uma obra de arte e guardado como ítem de colecionador.