sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Túmulos de estimação

Publicado em 02 de novembro de 2010

Cemitério de animais na França, o mais antigo do mundo, oferece lápides dignas aos pets queridos que já partiram

Quando se fala em cemitério de animais, certamente muitas pessoas se lembrarão do filme de terror Cemitério maldito (Pet sematary – 1989), que foi baseado no livro O cemitério (Pet sematary – 1983) de Stephen King. A história mórbida mostra um cemitério de animais que foi construído sobre solo sagrado e que ressuscita, de forma nada agradável, os seres mortos que porventura são enterrados lá. Porém, não sabemos exatamente para onde vão as almas de nossos bichos de estimação ou mesmo se eles, e até mesmo nós, temos alma. Porém, em todo mundo, inclusive em Goiânia, muitos corpos de pets que expiraram têm um destino, sem dúvida, mais digno que o aterro sanitário ou o esgoto.

A história ocidental dos cemitérios de animais começa na França, na primeira metade do século XIX. Devido à crescente preocupação com as condições de vida dos bichos e com os maus tratos dispensados aos cavalos usados como meio de transporte, foi criada a Sociedade Protetora dos Animais francesa (Societe Protectrice des Animaux - SPA). Com o decorrer dos anos, os avanços no que diz respeito à qualidade de vida e aos direitos dos seres não-humanos foram muitos e o amor das pessoas pelos animais só aumentou. Isso levou a questionamentos sobre o tratamento dado aos bichos queridos não só em vida, mas assim que eles morriam. O destino desses cadáveres, na Paris da época, geralmente era o Rio Sena ou fossas das fortificações.

Monumento no cemitério de animais francês ao são bernardo Barry que, durante sua vida, salvou muitas pessoas da neve

Os pets vislumbraram uma possibilidade de enterro e tumbas dignas com a instituição da lei sanitarista francesa de junho de 1898 que ditava que os animais domésticos deveriam ser enterrados “em uma cova, na medida do possível, a cem metros das casas, na qual o corpo seria coberto com uma camada de solo não inferior a um metro de espessura”. Ativistas pelos direitos dos animais, o advogado Georges Harmois e a jornalista feminista Marguerite Durand, então escolheram um lugar a noroeste da capital francesa, em Asnières, e criaram o Cemitério dos Cães de Asnières (Les Cimetière des Chiens d’Asnières), cuja inauguração oficial aconteceu em 15 de junho de 1899.

Cerca de 40 mil animais já foram enterrados até hoje no Cemitério dos Cães. Não existem somente cachorros e gatos nas covas, mas também jazem por lá o leão de estimação da fundadora Marguerite, um macaco, cavalos, coelhos, hamsters, ratos e pássaros, além de peixes que se salvaram de um funeral risível em volta de um vaso sanitário. Como em todo cemitério famoso e visitado por turistas de todo mundo, o Cimetière des Chiens também possui hóspedes ilustres. O mais conhecido, por certo, é o pastor alemão e ator de rádio e de cinema das décadas de 1920 e 1930 Rin Tin Tin (10 de setembro de 1918 – 10 de agosto de 1932).

O cão foi achado, juntamente com sua mãe e quatro irmãos, pelo então cabo das forças americanas Lee Duncan, como sobreviventes em um canil bombardeado em Lorraine, na França, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Com sua irmã Nenete, Rin Tin Tin acompanhou os soldados americanos na guerra para dar sorte e foi para Los Angeles assim que o combate terminou. Na costa Oeste dos EUA ele começou a se apresentar em show de cães, adestrado por Duncan. Depois, o cachorro atuou no cinema e no rádio fazendo efeitos sonoros. Nas ondas sonoras ele se tornou célebre com a série homônima. O cão morreu aos 14 anos e seus descendentes continuaram a estrelar programas e filmes usando o mesmo nome. O Rin Tin Tin original retornou à França e hoje seu corpo se encontra enterrado no Cemitéirio dos Cães sob um belo monumento.

Outra escultura bastante pomposa é a que homenageia o são bernardo suíço Barry (1800 – 1814). Durante sua vida, o cão resgatou cerca de 41 pessoas perdidas na neve. O corpo de Barry não está no cemitério francês, pois figura empalhado no Museu de História Natural de Bern, na Suíça.

Arte funerária animal

As homenagens aos animais que estão enterrados no cemitério são, ao mesmo tempo, inusitadas e enternecedoras. São lápides em miniatura espalhadas por todo o lugar com fotos e nomes dos pequenos amados que já se foram. Mausoléuzinhos e estátuas em tamanho natural de cães e gatos de diversas épocas e estilos figuram lá. Uma esfera de vidro em cima de um túmulo preenchida com as bolas de tênis com as quais o cão em vida costumava brincar é de trazer lágrimas aos olhos dos mais emotivos.
Mais inusitado ainda é perceber que o Cimetière des Chiens não possui apenas animais defuntos. Vez ou outra é possível ver alguns gatos passeando por entre as covas ou tomando sol em cima das tumbas. Nos fundos do local se encontra a Casa dos Gatos, um abrigo mantido por uma organização de proteção aos felinos. O site em inglês Europe for Visitors, que traz uma boa resenha sobre o cemitério de Asières, confidencia que “após passar uma hora ou mais entre os túmulos de animais mortos, é bom fazer contato com criaturas vivas, mesmo que seja uma gato cansado e com o olhar entediado”.

Entre os visitantes turistas do cemitério, uma francesa, que preferiu não dar o nome a nossa reportagem, costumava passar pelos jardins e pelas lápides frequentemente durante o ano de 2006. Ela tinha perdido seu amigo felino há pouco tempo e não quis arrumar outro. Ao ir ao cemitério, ela levava ração para os gatos que moravam lá e acariciava os bichinhos a fim de aplacar um pouco a saudade que sentia de seu companheiro insubstituível.

Cemitério dos
animais em Goiânia
Em 2005, quando a morte levou os cães da veterinária Inês Schroff Machado, a doutora percebeu que não havia um lugar apropriado na cidade reservado exclusivamente ao descanso final dos seus pets. Ela então cedeu uma chácara sua para criar um cemitério de animais em Goiânia. Foi então que surgiu o Cemitério da Dog’s & Cat’s Clínica Veterinária e Pet Shop. Situada no KM 8 da GO-080, na saída para Nerópolis, ele tem hoje apenas cães e gatos enterrados, mas outras espécies de animais domésticos podem ser recebidos pelo cemitério.
O preço dos lotes à disposição dependem do tamanho do bichinho. Animais de pequeno porte podem ter uma cova digna por R$ 255; de médio porte, por R$ 325; e de grande porte, por R$ 420. Os humanos enlutados ainda podem deitar seu querido pet em um caixão e fazer uma lápide que melhor homenageie seu amado animal de estimação. Para informações, ligue 3281-1666.

Le Cimetière des Chiens d’Asnières
Quando: De 16 de março a 15 de outubro: das 10h às 18h / de 16 de outubro a 15 de março: das 10h às 16h
Onde: 4, pont de Clichy - 92600 Asnières-sur-Seine
Quanto: Adultos: 3 euros / Crianças de 6 a 11 anos: 1 euro/ Entrada franca para menores de 6 anos
Informações: www.mairieasnieres.fr / www.europeforvisitors.com

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